quinta-feira, 2 de março de 2017

Príncipe nas ruas


Quando lançaram o documentário do Chico Buarque em 2015, eu realizava uma residência artística na Oficina Cultural Oswald de Andrade, no bairro do Bom Retiro, em São Paulo.

Numa sexta feira de trabalho, saí mais cedo que o habitual, para assisti-lo no cine Belas Artes.
Fui de metrô e peguei a saída que dá acesso ao cinema, ao lado das Lojas Pernambucanas.

Ali havia sob a plataforma da loja, uma família sentada. Era uma mãe e algumas crianças.
As crianças tomavam danoninho e olhavam as pernas das pessoas que passavam. Tinha muito movimento. Uma delas parecia resfriada. Me imaginei com cinco anos sentada ali também.

Fui ao cinema, mas uma parte minha ficou na calçada. Uma parte que eu esqueci enquanto assistia ao Chico falar de arte, de sua vida admirável, da cultura brasileira.

Vendo o filme, fiz planos. Pensei no que ainda desejo fazer, no que quero aprender, nos meus projetos. E saí do cinema para o metro duas horas depois, feliz e completamente identificada com o Chico, quando vi as crianças de novo, exatamente no mesmo lugar, olhando as pessoas.

Duas horas de vida para todos nós.

Não sei se recolhi a parte que havia deixado ali antes do filme, mas levei as crianças para casa.
Depois coloquei o Chico aos cinco anos junto e pensei dos meus filhos.
Por que me permito ser parte das pernas que passam diante dos olhos delas?

Não tenho ainda esta resposta. Também não sei se sou honestamente capaz de encontrá-la.
O que encontrei foi uma maneira de parar quando as vejo na rua com o Chico Buarque e eu.  Fiz um livro para colorir.

Levo na mochila um livrinho que inventei, com uma caixa de giz de cera. Ofereço quando as vejo e elas costumam aceitar meu oferecimento.
Eu também aceitaria, é meu assunto preferido.

O livro é sobre um pássaro chamado Pyrocephalus rubinus. Uma ave migratória de aproximadamente 13 cm que viaja pela América, desde o sul dos Estados Unidos até o Chile e Argentina. Quando passa por São Paulo é chamado de Príncipe. Mas possui diversos outros nomes.

Coloquei no livrinho alguns dos nomes que ele recebe pela América, o nome da maioria dos países por onde passa, uma lenda dos índios Tehuelches que adaptei, um trecho de um canto de índios americanos que me ensinaram e uma frase do poeta Walt Whitman.

Eu nunca vi um Príncipe, dizem que ele frequenta o parque do Ibirapuera no verão.

Caso você também queira exemplares deste livro para entregar às crianças que estão em voo por aí, basta acessar o link a seguir para ter o arquivo para impressão.
Aí é só levar a uma gráfica rápida e comprar as caixas de giz de cera para entregar junto com o livrinho. Eu imprimo em papel pólen no formato 21 x 21 cm. 

Renata Cruz


https://drive.google.com/file/d/0B_MtK7OlDSxBQUJjakZzSk82RlU/view